sábado, 18 de junho de 2011

Um pouco mais de calma

Atualmente, a vida de todos é uma correria. 

Os recursos tecnológicos deveriam ter nos gerado facilidades e, com isso, uma vida mais traquila. Mas não foi o que aconteceu. 

A sensação é de estar correndo contra o tempo, de ter mais tarefas e coisas  para fazer do que conseguimos. Essa ansiedade nos persegue.

Eu costumo usar a expressão de que às vezes me sinto em um bote inflável, sem remos, descendo a corredeira de um rio. A vida me leva, me arrasta. Mas isso não significa que "eu deixo a vida me levar".

Não é isso que eu quero. Eu quero os remos, quero ditar meu ritmo, ir mais devagar. Eu quero ter o direito de só deixar a vida me levar, quando a correnteza estiver fraca e eu apoiar os remos no meu bote e apreciar o sol se pondo no horizonte, nos momentos de claro prazer e contemplação.


 Eu quero um pouco mais de calma, eu quero um pouco mais de alma. 

Eu adoro a música do Lenine, cuja letra estou colocando nesta postagem. Mas como ele mesmo diz: a vida não pára.

E se a vida não pára, o que fazer? Mas o poeta pergunta "será que é tempo que lhe falta para perceber?"

Durante muito tempo foi. Eu ainda não havia percebido, ainda não estava na hora, eu precisava de tempo para aprender. E a vida não pára, o que fazer?

Mas eu fui avançando... ainda não aprendi tudo, mas peguei o início da lição. E como o poeta disse "enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso e faço a hora." 

E meu senso excessivo de dever perguntava: mas como??? A vida não pára, como eu vou parar? Como vou me recusar e fazer minha hora??

A análise ajuda a me compreender e pensar sobre o que está em volta. Se a vida não pára, eu páro. Eu tenho os meus remos agora, só tenho que treinar mais como usá-los. Eu posso me recusar. Eu posso dizer não. Eu posso impor meus limites. 


Eu preciso ter prazer e ter tempo para mim. "O corpo pede um pouco mais de alma". A minha vida não pára e ela tem o meu ritmo. O resto terá o seu quinhão necessário do meu tempo e atenção.


A vida é minha e a minha vida é calma. E o que eu tenho de melhor para oferecer a mim e depois ao mundo é partilhar a minha alma.

E eu estou aqui, sentada na varanda, contemplando o horizonte e escrevendo esta postagem. Dividindo com quem se interessar, com você ou com ninguém. Por puro prazer. "A vida é tão rara."
Elaine

Paciência

Lenine

Composição : Lenine e Dudu Falcão

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge 
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para...
A vida não para...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Amor e os Namorados

Ontem foi o Dia dos Namorados. Com tantas mensagens diretas e subliminares, é quase impossível não pensar no Amor romântico. Namorar é muito bom. É envolvente, excitante, podemos rechear a relação de novidades e curtir tudo de bom que temos a oferecer a alguém e o que este alguém pode nos oferecer.

Porém, conviver muitas vezes é difícil. A intimidade aproxima, gera conforto, mas atrapalha, cria motivos de atrito e faz desaparecer a novidade. Quando já temos uma relação de mais tempo e estável, seja em um namoro, experimentando morar juntos ou casados (oficialmente ou não), estes níveis de compromisso, de convivência, de intimidade e da partilha das rotinas e questões que permeiam a vida, trazem uma série de dificuldades ao relacionamento.

Há muitos anos eu comparo o relacionamento estável com um sofá ou uma cama king size. Por quê? 

Porque quando temos uma necessidade e um desejo, buscamos aquilo que vai nos atender e rodamos até encontrar. Até que em um determinado momento, mais cedo ou mais tarde, encontramos o objeto de desejo que atende às nossas expectativas. Entramos em uma loja e olhamos aquele sofá maravilhoso, com a forração, o design, a sensação de conforto e aconchego. Pode ser uma cama king size, aquela maravilhosa, de molas, com todas as tecnologias que fazem você se sentir no paraíso dos hotéis de luxo. Você imagina aquele sofá na sua sala ou aquela cama no seu quarto e o prazer indescritível de você curtir aquilo o tempo todo, todos os dias, de fazer aquele momento da sua vida, quando você chega em casa e se joga no sofá ou na cama e vive aquele prazer.

Esse prazer é real, mas passam os dias, os meses, anos e todo dia você chega em casa do trabalho, do lazer, de suas tarefas diárias e mil coisas passam por sua mente. Você continua se jogando no sofá ou na cama e curtindo o prazer de estar em casa, mas não se relaciona mais da mesma forma. Eles estão lá e vocês já o conhecem. Mas você não vai mais parar e admirar o design do seu sofá, você não vai deitar a cama e sentir o prazer de ter um pilow-top com tecnologia da NASA. Eles mudaram??? Você mudou???

Não, nada disso aconteceu. É apenas um efeito da rotina, da intimidade. O cérebro não consegue dar a mesma atenção para tudo e classifica. O que é conhecido começa a entrar em uma espécie de vivência automática.

Isso acontece com as pessoas e os relacionamentos. Muitas vezes elas não mudam sua essência, nem o seu gosto sobre aquilo que lhe atrai. Apenas a rotina automatiza esses relacionamentos. E isso é normal e esperado ainda que a maior parte das pessoas não se conscientizem disso. 

Tanto que, se um dia você abrir a porta da sua casa e descobrir que seu sofá ou sua cama sumiram. O desespero, a raiva e diversas outras emoções vão aparecer e você vai lembrar de cada uma das qualidades que fizeram você escolher e como não é simples sair e achar outro. Imaginem com os relacionamentos, quando eles acabam de forma brusca assim.

Então, nos questionamos: o que fazer para evitar que a intimidade excessiva e a rotina diminuam o prazer dos relacionamentos?

Não vou dizer que tenho a fórmula perfeita. Mas sabemos que isso deriva de várias causas e que uma delas é simplesmente porque o nosso cérebro vai classificar e se acostumar com a rotina. Para todos os lados, ouvimos a idéia de que devemos viver o momento presente como se fosse único, porque ele realmente é. Mas como repetimos as coisas, precisamos dividir nossa atenção e energia e vamos entrar em rotinas semi-automáticas. Isso nos ajuda a tomar banho, escovar os dentes, a dirigir, etc.
Precisamos fazer isso com o amor e os relacionamentos? Não precisamos, mas faremos. 

Só que nós somos muito mais do rotinas. Somos razão e emoção. PRECISAMOS FAZER COISAS DIFERENTES, precisamos SER diferentes e VIVER momentos diferentes.  É para isso que servem as viagens, passeios e tudo que podemos fazer fora da rotina.

Vale também se permitir ser diferente em alguns momentos e dividir isso com quem você ama. Todos temos múltiplas facetas e não nos permitimos vivê-las no dia-a-dia. Aceitamos os rótulos. É possível ser mulher, mãe, filha, profissional, amiga, esposa, amante, etc. Seja mulher ou homem, conhecemos esses papéis. Mas e os outros que estão dentro de você?
Você pode ser certinho, ousado ou extravagante. Pode ser emocional, passional, romântico ou selvagem. Pode ser aventureiro ou convencional. Pode ser criança, adolescente, jovem ou adulto. Podemos ser tudo isso dentro de nós. Por mais que tenhamos um conjunto de características que preponderam em nossa personalidade, temos diversas outras dentro de nós, que devemos dar vazão em algumas circunstâncias. Que melhores condições de viver isso do que brincando ao lado de quem se ama? 

Não devemos ter rótulos que nos congelem  perante aqueles que amamos, nem devemos rotulá-los. Isso pode limitar demais o amor. Não queremos ser um sofá.  
 Ame-se o máximo que você puder e explore tudo o que há dentro de você, até para se conhecer mais um pouco. Convide quem você ama a fazer o mesmo e estabeleça momentos para simplesmente brincar de viver.

Se você tem outras idéias, que podem ajudam a manter viva a chama do amor, divida conosco. Quem sabe não podemos inspirar alguém.

Elaine
 

domingo, 5 de junho de 2011

O Trabalho e a Alma


Essa semana, eu li na revista Veja um artigo de Cláudio de Moura e Castro denominado “O profissionalismo como religião”. Esse artigo me fez refletir.

A linha de argumentação do artigo coloca o paralelo da realidade atual com o fato histórico do início das profissões, nas milenares corporações de ofício, terem sido praticamente uma conversão religiosa, em que os rituais e padrões de qualidade eram cobrados todo o tempo. Ressalta a questão de que, nas sociedades mais tradicionais e evoluídas, o profissional ao adotar seu ofício, seja ele qual for, adota os cânones da profissão e exige de si a conduta ética e técnica por seu próprio senso de dever para com o trabalho que executa.

Assim, o profissional incorpora a ideologia da perfeição (no dizer do autor), sendo o capricho na execução uma necessidade própria e não algo que dependa de ser fiscalizado por alguém. Ou seja, não faz bem feito só no caso de alguém reclamar. A satisfação de fazer o trabalho bem feito, independentemente de alguém notar, é uma satisfação pessoal.

Eu concordo com o autor, mas acho que há outras questões também relevantes para a relação do ser humano e seu trabalho. O trabalho nos satisfaz ou não, por vários motivos.

Para alguns, há essa satisfação de fazer algo à excelência, de pertencer àquilo que executa, porque o produto bem feito do seu trabalho é parte daquilo que você é. Integra o mundo do ser, não somente do fazer. Você é alguém que faz uma determinada coisa bem feita. Isso te ajuda a se definir como pessoa. Realmente é quase uma escolha religiosa, pois vem de uma crença pessoal.

Se isso está certo ou não, se é bom ou não, não sei e acredito que o mundo não é preto e branco.

Nem todos têm a inclinação para a conduta religiosa, assim como nem todos terão esse sentimento de pertencimento que pode ser vivido no trabalho.

Da mesma forma, quem vive esse sentimento, pode sofrer uma crise identidade quando questiona como isso te define. Deveríamos ser definidos por aquilo que fazemos? Não somos muito mais do que isso??

Minha experiência pessoal é de que também podemos ser definidos pelo que fazemos, mas isso é só uma parte de nós. E existe um grande e grave problema quando essa parte se torna maior do que deveria. Porque antes de sermos profissionais, somos pessoas. O que nos define é a pessoa que somos.

Por isso, lembro de uma outra questão bem pessoal que se reflete na vida de boa parte das pessoas que conheço. Vivemos uma crise do trabalho. Quando o trabalho nos faz mal???

Acredito que o trabalho nos faz mal quando ele, por qualquer motivo, nos afeta negativamente o físico, a mente e/ou a alma.

Isso pode estar relacionado com a quantidade de carga, seja no número de horas, volume ou responsabilidade em excesso. Pode estar vinculado às condições de trabalho, incluindo o ambiente e as relações, ou mesmo às crenças pessoais e à forma como a pessoa se relaciona com o trabalho.

A falta de comprometimento, satisfação ou crença no resultado do trabalho é um grande motivo de frustração para muitas pessoas, tornando o dia-a-dia um peso a cumprir.

Para outras, isso não faz diferença. O retorno financeiro é o grande centro das atenções e motivo de satisfação ou não.

O ambiente é um fator comum a todos, porque afinal estamos nele grande parte do dia e quase todos os dias. Conviver bem é essencial ao ser humano.

Muitos se cobram exageradamente, exigindo uma perfeição inatingível. Assim, o nível de satisfação com a qualidade do que produzimos é simplesmente impossível. Nunca estará bom o bastante.

Outros, acham que têm que dar conta de todas as demandas, os anseios, as necessidades suas e alheias. Ou seja, são movidos por um desejo interno de ver tudo no lugar, de não deixar nada por ser feito, por um senso de dever exagerado, por um anseio, que apesar de impossível de ser atendido, os move a sentir que se tudo estivesse no lugar (pronto, feito e atendido), a paz finalmente poderia reinar.

Há quem acredite simplesmente que o problema sempre está em outro lugar: em um ou mais colegas, nas regras procedimentais ou sociais, ou mesmo no “sistema” (que como “condomínio”, “sociedade” ou “cidade”, é uma entidade etérea, detentora de todo poder e toda a responsabilidade, a qual nunca pertencemos, rsrsrs).

Há também aqueles que não conseguem escolher sua carreira ou trabalho, buscam, mas não encontram ou não definem. Se sujeitam ao que aparece e quando aparece, pois o mercado está difícil. Mas a falta de foco e objetivo, de um planejamento e ações encadeados e programados para definir uma carreira também atrapalha. Muito sequer sabem o suficiente sobre si mesmos para poder definir o que se quer. São tantos interesses e possibilidades em tese, mas nenhuma escolha efetiva.

Bem, não importa qual seja o motivo, o fato é que o trabalho, além de ser o nosso sustento e apenas uma parte, ainda que importante, de nossas vidas, muitas vezes nos faz mal.

O trabalho pode nos agredir à mente e à alma. Mas nossa mente e nossa alma, onde estão? Por que elas permitem essa agressão??

Até que ponto as condições da vida afeta nossas escolhas, atitudes e sentimentos? Seja o passado ou o presente, até que ponto o externo a nós nos atinge?

E o que está dentro de nós? A partir de que ponto podemos mudar o que somos, como sentimos e nossas atitudes diante da vida?

Entre as condições do meio em que vive e as características do próprio ser humano, sempre faremos essas perguntas.

E muitas outras tão importantes não são feitas, porque é difícil questionarmos a nós mesmos. É muitas vezes doloroso.

O que o trabalho ou a carreira significam para mim?

Dou mais valor a quê? Ao retorno financeiro, ao que vou fazer, ao produto do que faço, a como faço meu trabalho e as características dessa execução, ao ambiente que me cerca, ao que as pessoas pensam sobre mim e meu trabalho? O que me dá prazer? O que eu gosto?

Como eu lido com as escolhas? Quais minhas expectativas? Quais os meus limites? Qual o peso que eu atribuo a cada parte da minha vida?

Essas perguntas norteiam nosso processo de auto-conhecimento.

Olhar para nossa atitude em relação ao trabalho pode ser uma forma de nos ajudar a nos conhecer melhor. Afinal de contas, trabalhamos para nosso sustento, mas lá no fundo não é só isso... Refletir pode nos ajudar a ter uma relação melhor e mais saudável com essa parte de nossas vidas.

Acredito que se conhecer melhor é o caminho para as escolhas conscientes e saudáveis.

E você, como se relaciona com seu trabalho? Quer nos contar??

Elaine Melo