quarta-feira, 26 de junho de 2013

Incerteza e Diagnóstico


O ser humano precisa de certezas. A incerteza gera angústias e ansiedades. Precisamos entender e compreender. Quando passamos por problemas queremos um diagnóstico da situação. Se possível, gostamos mesmo é de um prognóstico. Queremos algo que define, classifique, explique o que vivemos. Se for possível, que possa predizer a marcha, a evolução daquilo que está sendo identificado, para que possamos nos preparar para o porvir.

Infelizmente, isso não existe de verdade. É um anseio natural, mas que só pode ser saciado parcialmente em algumas circunstâncias. É uma ilusão.

A vida não tem certezas. Nada nos é certo. Tudo é relativo. A melhor resposta à ansiedade consiste em aceitar o incerto, entender que pode até existir um provável, um possível, mas no fim só existe o incerto e não sabido. Essa é a beleza da vida e a maior de nossas angústias.

A cada momento podemos transitar entre o que é bom e confortável emocionalmente para nós até o desconforto máximo e angústia. É uma escolha. É o único e mais difícil controle que podemos ter na vida. Podemos não estar prontos para escolher e nos deixar levar pelo impulso interno seja ele bom ou ruim para nós. Mas é uma escolha interna e pessoal, ainda que seja inconsciente e acima do nosso autocontrole.

Quem dera pudéssemos ser tão evoluídos a fim de escolher, em todos os momentos da vida, a aceitação do presente e a não pré-ocupação com o futuro.

Não poderíamos escolher somente viver o bom ou estar em paz diante de tudo, porque isso não nos pertence e chegaria à indiferença. Não há nada errado em viver a dor, o luto, em chorar o pranto do nosso dia. Isso é humano, é real. Não existem só dias de sol e a tempestade também tem sua importância.

Mas se pudéssemos evoluir, aceitaríamos e viveríamos o presente. E quando o momento se torna passado, nos desprenderíamos dele e deixaríamos fluir e ir embora. Depois de viver a dor, precisamos nos entregar à coragem e seguir em frente. Precisamos de esperança e alegrias. Podemos escolher que emoção e que energia vamos vibrar hoje.

Recentemente, ouvi um diagnóstico de um problema de saúde que ninguém quer ouvir: câncer. Basta ouvir essa palavra que a gente treme. Quis Deus que eu soubesse a tempo e bem no início, mas quando eu ouvi essa palavra tremi. Eu queria um diagnóstico,  uma explicação, uma classificação, saber o que causou, em que ponto estava. Queria um prognóstico, saber qual evolução, o que fazer, qual o tratamento, quais as probabilidades de voltar, o que eu precisava fazer para controlar a situação. Eu chorei, vivi o luto, a dor, a angústia da espera da cirurgia, o agradecimento a Deus por descobrir tão no início, a expectativa do que fazer, os exames e a necessária explicação a cada um deles: pesquisa oncológica. Será que pode aparecer em outro local? E se eu não perceber a tempo?

Eu vivi tudo isso. Só que não existem explicações, não sei por que tive, nem se pode aparecer de novo do mesmo tipo ou outro. Existe um protocolo a ser seguido de exames periódicos com menor intervalo para quem já teve manifestação da doença. Mas o que eu sei se posso ter novamente é tanto quanto alguém que nunca teve: pode ser que sim, pode ser que não. É assim que é a vida.

Eu vivi isso. Chorei meu pranto e vivi meu momento de angústia, ansiedade e incerteza. Depois, escolhi viver o aniversário da minha filha. Escolho todo dia pegar na creche o que há de mais precioso da minha vida e sentar no tapete do quarto e brincar com ela.

Ao invés de vibrar na doença, eu vou vibrar na saúde. Eu tenho o presente para viver. O resto a Deus pertence e não está no meu controle. Nunca esteve.