O ser humano precisa de certezas.
A incerteza gera angústias e ansiedades. Precisamos entender e compreender.
Quando passamos por problemas queremos um diagnóstico da situação. Se possível,
gostamos mesmo é de um prognóstico. Queremos algo que define, classifique,
explique o que vivemos. Se for possível, que possa predizer a marcha, a
evolução daquilo que está sendo identificado, para que possamos nos preparar
para o porvir.
Infelizmente, isso não existe de
verdade. É um anseio natural, mas que só pode ser saciado parcialmente em
algumas circunstâncias. É uma ilusão.
A vida não tem certezas. Nada nos
é certo. Tudo é relativo. A melhor resposta à ansiedade consiste em aceitar o
incerto, entender que pode até existir um provável, um possível, mas no fim só
existe o incerto e não sabido. Essa é a beleza da vida e a maior de nossas
angústias.
A cada momento podemos transitar
entre o que é bom e confortável emocionalmente para nós até o desconforto
máximo e angústia. É uma escolha. É o único e mais difícil controle que podemos
ter na vida. Podemos não estar prontos para escolher e nos deixar levar pelo
impulso interno seja ele bom ou ruim para nós. Mas é uma escolha interna e
pessoal, ainda que seja inconsciente e acima do nosso autocontrole.
Quem dera pudéssemos ser tão
evoluídos a fim de escolher, em todos os momentos da vida, a aceitação do
presente e a não pré-ocupação com o futuro.
Não poderíamos escolher somente
viver o bom ou estar em paz diante de tudo, porque isso não nos pertence e
chegaria à indiferença. Não há nada errado em viver a dor, o luto, em chorar o
pranto do nosso dia. Isso é humano, é real. Não existem só dias de sol e a
tempestade também tem sua importância.
Mas se pudéssemos evoluir,
aceitaríamos e viveríamos o presente. E quando o momento se torna passado, nos
desprenderíamos dele e deixaríamos fluir e ir embora. Depois de viver a dor,
precisamos nos entregar à coragem e seguir em frente. Precisamos de esperança e
alegrias. Podemos escolher que emoção e que energia vamos vibrar hoje.
Recentemente, ouvi um diagnóstico
de um problema de saúde que ninguém quer ouvir: câncer. Basta ouvir essa
palavra que a gente treme. Quis Deus que eu soubesse a tempo e bem no início,
mas quando eu ouvi essa palavra tremi. Eu queria um diagnóstico, uma explicação, uma classificação, saber o que
causou, em que ponto estava. Queria um prognóstico, saber qual evolução, o que
fazer, qual o tratamento, quais as probabilidades de voltar, o que eu precisava
fazer para controlar a situação. Eu chorei, vivi o luto, a dor, a angústia da
espera da cirurgia, o agradecimento a Deus por descobrir tão no início, a
expectativa do que fazer, os exames e a necessária explicação a cada um deles:
pesquisa oncológica. Será que pode aparecer em outro local? E se eu não perceber a tempo?
Eu vivi tudo isso. Só que não
existem explicações, não sei por que tive, nem se pode aparecer de novo do
mesmo tipo ou outro. Existe um protocolo a ser seguido de exames periódicos com
menor intervalo para quem já teve manifestação da doença. Mas o que eu sei se
posso ter novamente é tanto quanto alguém que nunca teve: pode ser que sim,
pode ser que não. É assim que é a vida.
Eu vivi isso. Chorei meu pranto e
vivi meu momento de angústia, ansiedade e incerteza. Depois, escolhi viver o
aniversário da minha filha. Escolho todo dia pegar na creche o que há de mais
precioso da minha vida e sentar no tapete do quarto e brincar com ela.
Ao invés de vibrar na doença, eu
vou vibrar na saúde. Eu tenho o presente para viver. O resto a Deus pertence e não
está no meu controle. Nunca esteve.